quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mulheres: Da repressão a conquista do mercado de trabalho

Criado em homenagem a 129 operárias de Nova Iorque que morreram ao lutar por melhores condições de trabalho, o Dia Internacional da Mulher é, acima de tudo, símbolo de força e luta feminina. As tecelãs americanas reivindicavam, em 1857, a redução da jornada de trabalho de 14 para 10 horas diárias e direito à licença-maternidade. Hoje, as mulheres lutam por melhores empregos, remuneração igualitária e tentam conciliar o trabalho, educação dos filhos e administração do lar.

Nas últimas décadas é visível a crescente demanda de mulheres no mercado de trabalho, principalmente no setor informal de produção. Os primeiros estudos realizados pelo IBGE/PNDA em 1989, mostraram que 52% das mulheres recebiam até 1 salário mínimo, contra 25% da população masculina economicamente ativa. Apesar disso, elas têm contribuído cada vez mais na formação do orçamento familiar, quando não assumem a própria economia da família, o que acontece em cerca de 20% dos lares. Fernanda Vanhoni, gerente de engenharia da Pro Activa Meio Ambiente Brasil, está no mercado de trabalho há três anos e meio e busca satisfação pessoal e reconhecimento. Solteira e sem filhos, a engenheira sanitarista e ambiental pretende casar, mas para isso explica que é preciso aprender a conviver e dividir o espaço com o companheiro, tarefa difícil para quem mora há tanto tempo sozinha.

É cada vez mais perceptível a evolução da presença feminina no mercado de trabalho. Nos anos 50 as mulheres representavam 25% dos trabalhadores e em meados da década de 90 esse número já era de 42,5%. Ao passo que elas ganham os postos de trabalho, permanecem com as responsabilidades domésticas, filhos e marido, caracterizando uma dupla jornada de trabalho que requer esforço e muita dedicação. Fernanda acredita que o papel da mulher é extremamente sacrificante, pois precisamos desempenhar diversas atividades ao mesmo tempo, além das cobranças constantes e pouco reconhecimento. “Não podemos esquecer do papel de ser simplesmente mulher, estar sempre bonita e arrumada”, completa.

Sônia Jendiroba, consultora gastronômica e chef de cozinha há 33 anos comanda um dos principais restaurantes de Florianópolis. Segundo ela, o papel das mulheres nos dias atuais é árduo, desgastante fisicamente, porém gratificante e realizador. Sônia acompanhou toda a evolução do processo de inclusão da mulher no mercado de trabalho. “A mulher é empreendedora porque traça objetivos, é desprovida de preguiça, não se dá por vencida com os problemas que por ventura se sobrepõem ao dia-a-dia e acredita no que faz”, ressalta.

Corajosas, as mulheres alçam vôos cada vez mais ousados e vêem no empreendedorismo a chance de conquistarem o merecido lugar de destaque. Um estudo realizado pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor) revelou que o número de empreendedoras saltou de 29% em 2000 para 46% em 2003, o que corresponde a mais de seis milhões de mulheres ocupando posições de comando. A sensibilidade feminina aliada à intuição, potencial de liderança e versatilidade são características que fazem das mulheres excelentes executivas. "Durante o meu dia dou conta de ir à academia, gerir minha empresa e minha casa, cuidar do bem estar e dos detalhes da vida de meus dois filhos, dar atenção ao meu marido e aos meus clientes", explica Sabrina Alves Rodrigues, proprietária da Projecta Eventos, de Florianópolis, que organiza, comercializa e concebe eventos de porte regional, estadual, nacional e internacional. É ela, por exemplo, responsável pela recepção dos navios turísticos que chegam ao píer turístico de Itajaí e que teve a idéia de realizar dois eventos em Santa Catarina voltados ao segmento educacional e de festas infantis.

Ser mulher empreendedora, mãe, esposa e dona de casa é um desafio enfrentado por milhares de mulheres diariamente. Se hoje a situação ainda é complicada, antigamente era mais difícil. Quando questionado a respeito das mulheres, Aristóteles dizia que: “A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior”.

Porém, há lugares no mundo em que a discriminação feminina ainda existe de forma marcante, chegando a fazer parte da cultura e tradição de alguns povos. O Alcorão, livro religioso muçulmano, prega que: "Os homens são superiores às mulheres porque Deus lhes outorgou a primazia sobre elas. Portanto, dai aos varões o dobro do que dai às mulheres. Os maridos que sofrerem desobediência de suas mulheres podem castigá-las, deixá-las sós em seus leitos e até bater nelas. Não se legou ao homem maior calamidade que a mulher". A visão de grande parte das mulheres não é de submissão, mas sim de luta pela igualdade de direitos com os homens.

No Dia Internacional da Mulher há muito que ser comemorado. As mulheres aumentaram sua auto-estima e estão traçando objetivos de vida que vão além de formar uma família. Hoje elas querem ser mães, empreendedoras, donas de casa, esposas. “As mulheres estão entrando no mercado de trabalho por competência. Eu acreditei em mim mesma e no próximo, sabendo que não se vence a qualquer custo, mas sim com muito custo”, declara Sônia Jendiroba.

Muitas transformações ocorreram nos últimos anos em benefício feminino, grande parte delas com muita luta e reivindicação. A perspectiva é de que, cada vez mais, as mulheres sejam reconhecidas pelo trabalho e dedicação.